Análise da temporada - 2015
Do céu ao inferno, esta é a frase mais precisa para resumir a temporada de 2015 dos Falcons. Após surpreender e vencer os cinco primeiros jogos, a equipe caiu de produção de forma espantosa e – mesmo chegando até a penúltima rodada com pequenas chances – ficou fora dos playoffs, algo que era tido como improvável. Em situações como esta, a primeira reação de nós torcedores é descobrir quais foram os erros da franquia e achar um culpado para eles: afinal, a nova comissão técnica realmente foi a responsável pela irregularidade do time? Matt Ryan teve dificuldades em compreender o novo sistema ofensivo ou fez uma péssima temporada devido à falta de preparo e qualidade?
Em busca de respondermos estas e outras inúmeras perguntas, nós do Dirty Bird Brasil resolvemos analisar o desempenho de cada setor da equipe durante as 16 partidas disputadas. Sem mais delongas, confira as causas que destinaram Atlanta a um frustrante recorde de oito vitórias e oito derrotas:
Jogo corrido
Sem dúvidas o melhor setor da equipe em 2015, o jogo corrido evoluiu muito em relação a 2014. Com a chegada do coordenador ofensivo Kyle Shanahan, a implantação por ele do zone blocking, a titularidade do running back Devonta Freeman e ótimos bloqueios da linha ofensiva e do fullback Patrick DiMarco, os Falcons correram 48 vezes a mais e aumentaram 108 jardas e dois touchdowns à conta.
Embora os número – quais poderiam ser consideravelmente maiores caso o time não tivesse perdido o camisa 24 por um jogo, o limitado por mais outro e inexplicavelmente diminuído a quantidade de corridas em três partidas – não retratem esta grande melhora, ela é incontestável e pode ser observada durante os confrontos: enquanto tínhamos um time unidimensional quando Steven Jackson era o responsável pelas jogadas terrestres dos Falcons, Freeman entrou na end zone cinco vezes mais que o veterano (11 touchdowns) e tornou o backfield uma arma muito confiável e temível pelas defesas adversárias.
Jogo aéreo
Uma vez a mais forte arma da equipe, o jogo aéreo foi a maior decepção e o principal responsável pelo fracasso nesta temporada. Para piorar, os motivos são vários, portanto vamos enumerá-los para facilitar o entendimento:
1) Kyle Shanahan: a chegada do polêmico coordenador ofensivo pode ter feito bem para o jogo terrestre, mas não para o aéreo. Em um sistema diferente do que estava acostumado e contrário à suas habilidades, Matt Ryan teve grandes dificuldades de se adaptar e isto o levou a tomar péssimas decisões dentro de campo.
Somando isso à previsibilidade e equívocos nas chamadas e a dificuldade dentro da red zone, a franquia e acabou tendo uma queda de 174 jardas no total, sete touchdowns a menos e duas interceptações a mais em relação a última temporada, onde havia conseguido apenas seis vitórias.
2) Matt Ryan: mesmo que a maior parcela da culpa seja de Shanahan e seu sistema ofensivo, como lemos acima, Ryan deixou muito a desejar para um jogador que já está há oito anos na liga e também precisa aparecer na lista dos problemas.
O camisa dois mostrou dificuldades em entrar no ritmo da disputa e acertar a pontaria, fazendo assim leituras ruins da defesa e lançando interceptações inaceitáveis, algumas delas decisivas para o resultado da partida.
3) Wide receivers: Julio Jones teve um ano excepcional e alcançou a maior quantidade de jardas em uma única temporada em sua carreira, mas isto não foi o suficiente. Roddy White passou boa parte das partidas totalmente apagado (tanto devido às jogadas desenhadas por Kyle quanto pelo seu declínio físico) e Leonard Hankerson sofreu com lesões e inúmeros drops, facilitando a vida das defesas, que só precisavam focar na marcação de Jones para parar o jogo aéreo dos Falcons.
Contudo, há também pontos positivos. Além do camisa 11, Freeman foi um alvo bastante acionado e o rookie Justin Hardy provou seu potencial mesmo ficando de fora de sete partidas, podendo ganhar mais espaço e tempo dentro de campo já em 2016.
Linha ofensiva
Ainda que longe da perfeição, a linha ofensiva dos Falcons passou por uma grande mudança mas manteve o sólido desempenho de 2014 contra o passe e melhorou muito nos bloqueios para o jogo corrido.
Contando com uma profunda evolução dos tackles Jake Matthews e Ryan Schraeder, a linha responsável pela proteção de Matt Ryan permitiu 32 sacks – um a mais que na temporada passada - e 89 QB hits, torando-a a décima terceira melhor da liga. No entanto, nem tudo foi consistente: os fumbles nos snaps cometidos pelo improvisado center Mike Person foram frequentes e contribuíram muito para os resultados negativos da equipe.
Linha defensiva
O comando de Dan Quinn e a chegada de novos jogadores (via free agency e Draft) deram esperanças a torcida de que a equipe finalmente teria um pass rush eficiente. Esta melhora foi vista em algumas partidas, mas o desempenho geral levou a números piores que os pífios resultados da última temporada: 19 sacks (três a menos que 2014) e 117 jardas perdidas.
A instabilidade e fragilidade continuaram a ser marcas da da rotação, mas um novo problema surgiu: a dificuldade em aplicar o sack. Apesar de ter aumentado a pressão e conseguido adentrar ao pocket adversário, os jogadores perderam inúmeras oportunidades para derrubar o quarterback adversário.
Felizmente, nem tudo regrediu. Além da maior pressão exercida, houve um aumento dos tackles for loss, Vic Beasley – que atuou desde o training camp com uma lesão no quadril - mostrou muito potencial e a linha no geral apresentou uma grande melhora contra o jogo corrido, diminuindo 214 jardas em relação ao elenco anterior.
Linebackers e secundária
A chegada de Quinn trouxe sem dúvidas uma melhora significativa para a defesa no geral, mas a inconsistência de alguns jogadores da secundária e a fragilidade do corpo de linebackers não permitiram que a unidade se tornasse uma das melhores da liga. Entre os contras, destacamos a dificuldade dos linebackers na marcação contra passes, faltas em momentos importantes das partidas e lesões.
Ainda assim, o saldo é positivo: em comparação a 2014, Atlanta cedeu a menos 72 pontos (345 contra 417, a décima quinta no geral) e 596 jardas aéreas (3822 contra 4478, passado da pior da liga do quesito para a décima quinta colocação), além da melhora contra o jogo corrido citada no seção da linha defensiva. O surgimento do free safety Ricardo allen – que é cornerback e havia passado a última temporada no practice squad - e a incrível solidez de Demond Trufant também merecem ser enfatizadas.
Times especiais
Matt Bosher novamente teve um grande ano com ótimos punts e 68.42% de touchbacks em kickoffs - a quarta melhor marca da liga em 2015 -, provando estar entre os melhores da posição na atualidade. Já a decepção fica por parte da inconsistência nos field goals: o veterano e ídolo da torcida Matt Bryant, de 40 anos, errou chutes relativamente fáceis e perdeu os seis últimos jogos devido a uma lesão no quadril, preocupando a franquia sobre sua capacidade de continuar a atuar; para o seu lugar, Shayne Graham foi contratado e trouxe mais segurança, acertando 11 das 13 tentativas.
Por parte do restante dos times especiais, os Falcons tiveram a quarta melhor média em retornos de chutes (25.7 jardas) mesmo sem o lendário Devin Hester por boa parte da temporada. Eric Weems, o substituto da posição, conseguiu correr 403 jardas em 15 kickoffs e 221 em 19 punts recebidos.
Conclusão
No geral, avaliamos a temporada como neutra, assim como o recorde final. Ainda que era esperado um baixo rendimento devido às mudanças na comissão técnica, o elenco tinha potencial para render muito mais mas esbarrou principalmente nos erros de Shanahan no ataque e a fraqueza do corpo de linebackers na defesa, deixando uma má impressão na torcida. Porém, podemos observar muito potencial em boa parte do elenco e uma evolução expressiva defensivamente e no jogo terrestre, mostrando que, se Dan Quinn e seus staff trabalharem corretamente, os Falcons possuem anos promissores à frente.
Foto: 55thstreet - Flickr (http://migre.me/sMOCc)
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